Esta semana foi o centenário de Sophia de Mello Breyner Andresen, a primeira mulher a receber o Prêmio Camões, em 1998. Aproveito para deixar aqui um dos seus mais belos poemas “A forma justa”.,
O poema nos convida a nos readaptarmos e nos reinventarmos para os desafios que a vida sempre nos impõe, na crença de um mundo mais justo. É preciso recomeçar sem cessar.
“Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo
Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo.”
Sophia de Mello Breyner Andresen, “A forma justa”, in “O Nome das Coisas”
